"Estamira" é um documentário brasileiro lançado em 2004, dirigido por
Marcos Prado, que apresenta a vida de uma mulher de mesmo nome, Estamira
Gomes de Sousa. Esta resenha crítica psicológica analisará a personagem
principal, Estamira, destacando seus aspectos emocionais, comportamentais e
psicológicos apresentados no filme.
Estamira é retratada como uma mulher de idade avançada, vivendo em
condições precárias em um aterro sanitário na região metropolitana do Rio de
Janeiro. Desde o início do documentário, fica evidente que ela sofre de transtornos
mentais, provavelmente esquizofrenia, e que sua realidade é profundamente
afetada por essas condições psicológicas. As cenas do filme nos mostram uma
mente inquieta, fragmentada e alheia à realidade imediata.
Um dos aspectos mais notáveis do comportamento de Estamira é a sua
linguagem peculiar e aparentemente caótica, na qual ela mistura conceitos
religiosos, filosóficos, ambientais e pessoais. Suas falas são ricas em simbolismos e
metáforas, o que pode refletir uma tentativa de expressar suas angústias internas e
a dificuldade em organizar seus pensamentos de forma compreensível para os
outros. Essa forma de comunicação torna-se uma barreira para o estabelecimento
de relações sociais significativas, reforçando sua condição de marginalização.
Além disso, Estamira demonstra traços de pensamento desorganizado, como
ideias delirantes e alucinações visuais, que são apresentadas no documentário.
Esses sintomas sugerem uma desconexão da realidade e uma vivência interna que
difere substancialmente da experiência compartilhada pela maioria das pessoas.
Isso provavelmente contribui para sua condição de isolamento social e agravamento
de sua situação de vulnerabilidade.
Outro aspecto relevante é a sua resistência em aceitar ajuda psiquiátrica ou
medicamentosa. Apesar de algumas tentativas, ela se recusa a seguir tratamentos
convencionais e tende a desconfiar dos profissionais de saúde mental. Esse
comportamento pode ser interpretado como uma desconfiança generalizada,
característica de algumas formas de esquizofrenia, ou como uma estratégia de
proteção contra a possibilidade de ser controlada por terceiros.
O documentário também mostra fragmentos do passado de Estamira,
revelando um histórico de traumas e adversidades, incluindo um relacionamento
abusivo e a perda de seus filhos. Esses eventos podem ter contribuído para o
desenvolvimento de sua condição psicológica atual, exacerbando suas
vulnerabilidades emocionais.
Em suma, "Estamira" é uma obra que nos permite uma visão íntima e complexa de
uma mulher com transtornos mentais em meio a uma realidade social adversa. A
personagem principal, Estamira, é retratada como uma figura trágica e ao mesmo
tempo profundamente humana. Seu perfil psicológico é marcado por uma mente
fragmentada, lutas internas e uma comunicação incomum, o que cria uma barreira
para sua compreensão e aceitação pela sociedade. O documentário convida a
reflexões sobre as condições de vulnerabilidade e a necessidade de compaixão e
cuidado com pessoas que enfrentam distúrbios mentais e que são marginalizadas
pela sociedade.
Sobre o Autor:
Ian Leonardo de Oliveira. Sou Psicólogo com experiência de mais de cinco anos na área,
realizando atendimento clínico para adolescentes, adultos e idosos na Clínica Equilibryum, além de consultas hospitalares no Hospital Santa Paula, para pacientes com câncer. Tem expertise no trabalho com equipe multiprofissional pela Unidade de Referência à saúde de pessoas idosas.
É especialista em Psicologia Organizacional e do trabalho pela Unibf, com competências
generalistas para atuação nas áreas de saúde, educação e organizacional.
Graduado em Psicologia pela Universidade Anhembi Morumbi, Pós-Graduado em Psicologia Hospitalar pela UniSão Paulo e atualmente cursa Pedagogia pela Unesp, com previsão de conclusão em 2025.
Contato:
11937720104
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